02 abril 2007

Você gosta?

Agora que viajar de avião está tão difícil no Brasil e passa-se horas e horas em filas intermináveis, está mais fácil do que nunca fazer amizades na sala de embarque.
Estava eu, na noite do apagão aéreo, esperando meu vôo na fila quando comecei a conversar com uma senhorinha de uns sessenta e poucos anos. Sei lá porque cargas d'água surgiu o assunto, mas o fato é que ela começou a me contar que tinha morado muito tempo em Portugal porque foi casada com um português. E ela foi falando sobre o "choque cultural", mas que ela gostou muito e tal. O único problema era o português. A língua, não o marido.
Explico: ela me disse que existem muitas palavras que têm outro significado por lá e que isso a fez passar por alguns constrangimentos.
Certa vez ganhou um broche do marido, mas teve a sorte de ter um amigo muito próximo que a chamou num canto e avisou:
_Olha, o pessoal sabe que você é brasileira e vai te perguntar o nome disso. Diga alfinete de peito. Porque, aqui, broche quer dizer sessenta e nove.

Avisada, ela escapou desta. Porém, algum tempo depois ela resolveu fazer um jantar para uns amigos militares do marido. O marido sabia qual era o prato e ajudou-a a comprar os ingredientes e preparar tudo. No início da noite, ela anunciou radiante:
_Eu preparei para vocês um prato tipicamente brasileiro: UM BOBÓ!
Foi um silêncio na mesa. Algumas pessoas davam risadinhas abafadas e as perguntas pipocavam:

_Mas você gosta de fazer bobó? Não é difícil?
_Não. Muito fácil . ADORO.

_Mas você faz só para o seu marido?
_Não. Gosto de fazer para grupos grandes, porque aí a gente tem a apreciação de mais gente.

_Mas você faz sempre?
_Sempre que eu posso.

Até que o tal amigo que a avisou do broche, chamou-a num canto:
_Olha, Jacira, bobó...é a mesma coisa que broche!

Nessa hora ela disse que só conseguiu lembrar do marido que durante todo o dia estava ciente do prato que seria feito, e não avisou-a de nada. Resoluta, olhou-o por cima do prato:
_Você vai ficar um bom tempo sem bobó!

4 comentários:

Anônimo disse...

Bobó é bom e (quase) todo mundo gosta...

Essas diferenças entre o Português e o Português são fantásticas, devem render muuuitas situações constrangedoras.

Te amo.

ROGÉRIO FERREIRA disse...

eis que na aula de espanhol um amigo diz que vai dar um punhetaço (puñetaso = soco) na menina que nao para de falar!!

esses cognatos!!!

Beijos

Daniela Rey Silva disse...

Fala sério! Mas que português (quero dizer o marido mesmo!) mais safado... Nem pra proteger a indefesa esposa das piadas alheias...
Bjs

VeriSerpa Frullani disse...

é muito engraçado como em dois minutos sentados ao lado de algumas pessoas, acabamos sabendo fatos de suas vidas, outro dia no ponto de ônibus do nada uma mulher me contou a vida, que ia viajar para um casamento, mostrou os sapatos que tinha comprado, no final descemos no mesmo ponto e ela ainda olhou pra mim e falou: eu moro aqui viu?... muito simpática, mas ela esqueceu que não me conhecia...

ps: esse marido mereceu ficar sem bobó por um bom tempo... hehehe