A cada dia que passa eu tenho mais certeza de que eu sou um eficiente pára-raio de malucos e de que minha vida tem a Fernanda Young (autora dos normais) como roteirista.
Estava eu cobrindo férias do médico que trabalha comigo, então estava saindo às 19h ao invés de 17h. E essa pequena troca de horários deve ter causado um desequilíbrio cósmico que permitiu a liberação de seres completamente loucos para a nossa dimensão...
Pois bem, eram umas 18:30 e eu já estava louca de vontade de ir embora, mas ainda tinham dois pacientes para fazer exame cerebral. Um era uma senhora completamente doida, mas calminha. E o outro era um rapaz jovem, mas que tinha sido consumidor de maconha, cocaína, tranquilizantes e anfetaminas...ah! cigarro também.
Fomos colocar a senhorinha no aparelho, enquanto eu conversava com o rapaz. Nisso, toca o telefone e me chamam.Eu vou atender. É um médico gago:
_Do-do-doutora e-e-eu queria fa-fa-falar sobre um la-la-laudo que você deu.
Eu tiro o telefone do ouvido e olho, sem acreditar para o fone, olho também a minha volta, mas aparentemente não é pegadinha do Faustão, não tem nenhuma câmera escondida. Recoloco o telefone no ouvido para tentar ouvir a criatura ler um laudo de DUAS páginas que eu dei, pois ele não me deixava de jeito nenhum falar nada antes que ele lesse o laudo todo.
Nisso, a senhorinha que já estava embaixo do aparelho começa a se mexer. Eu solto o telefone, corro, explico que vou ter que recomeçar o exame do início, que são 20 minutos sem mexer e ela já estava no 10.Conto até 1000 e reinicio o exame da velha (nesse ponto é velha, senhorinha é a putaqueopariu!).
Daí vem o drogado, entra na sala me olha e diz:
_Pô, Dra, esse aparelho é mó viagem...parece a nave do Dr. Spock. Aliás a senhora é sinistra...tenho certeza que você tem tipo assim, um poder feminino, acho que a senhora lê mentes...a senhora leu a minha mente?
A paciente começa a querer se mexer. Eu grito. O drogado continua seu monólogo:
_Pô doutora, a senhora é muito estressada, vou trazer umas fitas de relaxamento para você ficar bem zen...
Eu lembro do médico gago ao telefone, atendo. Dou uma cortada na criatura, consigo terminar o exame da velha, derrubo o drogado na maca e faço o exame mais rápido possível.
Saio da clínica correndo sem olhar para trás. Entro voada na van. Agora sim. Calma, silêncio...
fecho meus olhos e sou acordada por uma mão na minha perna. Assustada abro os olhos e dou de cara um adolescento de uns 15 ou 16 anos me olhando com a mão na minha perna.
Tarado adolescente filho de uma ronca e fuça! Já não tenho mais forças. Dou uma risada que o deixa constrangido e o faz saltar dois pontos depois.
Agora sim. Caaaaaaaaaaaaaaaaaasa.Pelo menos até amanhã...