Inexorabilidade
Ano passado eu perdi meu pai depois de três anos em coma por causa de um acidente besta. Há algumas semanas perdi meu tio e padrinho, que além disso tudo era melhor amigo do meu pai.
A morte dele foi um susto. Ele começou a emagrecer e um mês depois tinha morrido de um câncer de pâncreas tão fulminante que ele nem chegou a saber o que tinha.
Ele tinha 54 anos. Jovem. Feliz. Animado.
O mais sofrido nisso tudo foi saber que ele estava com medo. Ele sabia que estava doente, não sabia o que era e estava com muito medo.
Quando somos crianças, a morte é uma coisa tão distante... você pode até perder alguém importante mas você se recupera rápido porque a morte não é parte da sua realidade ou do que você imagina que pode acontecer com você.
Mas quando estamos mais velhos, essas perdas invariavelmente nos obriga a encara nossa própria mortalidade. Podia ser eu ou você. Podia ter acabado para mim ou para você. E nós teríamos ido sozinhos porque nessa hora não adianta ter alguém ao seu lado. É a SUA hora.
E isso é extremamente aterrador.
Eu estou diferente depois disso, nem teria como ser de outra maneira. Ainda demoro a dormir pensando no medo que tenho da morte, ainda penso em como deveria não deixar as coisas para amanhã.
Perguntei ao meu namorado se ele não tem medo e como faz para conviver com essa idéia. Ele me disse que simplesmente não pensa nisso.
Eu ainda não consegui deixar de pensar e também não consegui me convencer de que este é o melhor caminho.